MySpace Layouts

quinta-feira, 27 de maio de 2010

A Música na Cerimônia Nupcial na Igreja


A música executada nas cerimônias nupciais em nossas igrejas revela grande disparada de opiniões. Parece haver pouco consentimento neste assunto. Cada pastor e cada congregação tem sido livres para conduzir esta política em seus domínios. Não é com o objetivo de alterar este controle que procuro apresentar estas sugestões, mas é na esperança de que se possa melhorar a norma geral no que tange às músicas executadas nas cerimônias de casamento.

Sem dúvida todos concordam que em nossos templos se devem executar exclusivamente música sacra ou de caráter religioso em qualquer serviço que nele se realiza. A igreja é consagrada à adoração de Deus, e não se coaduna com a sacralidade da igreja o executar música nitidamente secular num lugar de culto.

Muitos não entendem essa distinção entre música secular e sacra quando se propõem a executar. Pelo fato de a música ser abstrata e livre de palavras, muitos não são capazes de discernir as melodias secular e sacra. Um musicista desenvolvido reconhecerá que há estilos e espécies de músicas apropriadas para a igreja. Algumas músicas têm índole religiosa, e pelo seu caráter são adequadas para cerimônias religiosas. Outras, no entanto, são decididamente de caráter secular pela própria natureza.

Ora, não é senão apropriado que a música para a cerimônia nupcial deva vir sob a classificação de música sacra. Deve ser música que se associa com a religião. Deve ser livre de índole secular.

A cerimônia nupcial pode ser vista sob vários aspectos. O jovem casal inclina-se a ser absorvido pelo amor romântico que atrai um ao outro. Em si mesmo, isto pode ser belo. Há então a sacralidade da união de duas vidas. Este é o ponto de vista da igreja que deve realizar a cerimônia de pedir a benção de Deus sobre a união. É o lado religioso da ocasião. É séria, solene, dignificada e deve estar em consonância com a natureza religiosa da igreja. Há também o lado social de uma celebração nupcial, quando os amigos do casal lhes desejam felicidade e gozo na vida em comum. Estes votos geralmente se expressam numa recepção que se segue à cerimônia.

Algumas vezes as cerimônias matrimoniais demonstram uma completa falta de entendimento dos vários aspectos de uma celebração, e o serviço na igreja se torna uma confusão do secular com o sagrado. As manifestações românticas do casal devem ser feitas em local reservado e não publicamente diante dos convidados. Um longo abraço e um beijo no final da cerimônia são sentimentais e de muito mau gosto em público. Os verdadeiros amantes não precisam exibir-se desse jeito numa cerimônia.

Hinos e Canções

Canções de amor, muitas delas tradicionais, são na maior parte seculares por natureza, e realçam o lado romântico e secular do amor. É melhor que sejam omitidos numa cerimônia de igreja, mas podem ter lugar na recepção posterior. Na cerimônia devem-se cantar cânticos religiosos que falem da guia de Deus e peçam sua benção para o ato.

Música Instrumental

A música instrumental deve ser toda de natureza religiosa. Um programa curto antes da cerimônia constituído inteiramente de música religiosa própria para ser executada na igreja. Mesmo as marchas tradicionais são presentemente questionáveis por muitos, mas há outras marchas processionais que se podem adaptar a esse fim. As marchas processionais não soam da mesma forma que marchas comuns, não são "ligeiras", mas sim solenes e proporcionam a reflexão. E ao som de um processional a pessoa não precisa andar ao compasso da música; não precisa marchar, mas andar. Os coros e os processionais acadêmicos são muito eficientes quando os participantes andam vagarosamente, sem procurarem o passo militar. Assim a marcha processional na cerimônia de casamento pode ser bela e eficiente quando as pessoas adentram o santuário numa procissão ordenada do toque de um hino ou outra música sacra.

Conquanto a noiva tradicionalmente tem a iniciativa de planejar a cerimônia, deve ser orientada pelo pastor e pelo organista no organizar a cerimônia na igreja. Deve ela seguir o conselho, a fim de que seu casamento possa estar em concordância com a sacralidade da igreja. Há outros assuntos, além da música, em que o conselho e orientação do pastor devem ser seguidos. Tais como a ornamentação, tiragem de fotografias, etc. Para que nada fique destoante em relação ao sacro. Para que o sacro não se misture com o "fogo estranho" do profano.

Harold B. Hannum
--------------------------------------------------------------------------------

Fonte: Revista O Ministério Adventista, Maio - Junho 1959, p. 4.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Como Surgiu a "Música Cristã Contemporânea"


Um ex-baixista de uma famosa banda de rock revela a principal fonte da Música Cristã Contemporânea. Não é uma história muito agradável.

India, uma dançarina que excursionava com a banda de rock que eu participei no passado, caiu ao chão com um baque surdo. O cântico africano que estávamos tocando, havia produzido seu efeito. Ela agora estava convulsionando e espumando.

Após as convulsões e outros sintomas anormais, India respirou fundo e quedou-se imóvel. Alguns minutos se passaram; ela voltou a si, mas sem poder falar. Ela estava, aparentemente, em um transe. Pegou uma caneta e escreveu uma mensagem de alerta sobre a viagem que estávamos planejando.

Algumas vezes, quando tocávamos este cântico africano, após passar pelo mesmo quadro convulsivo, India voltava de seu transe falando com uma voz estranha e diferente da sua.

Conhecendo a forma que India reagia a este cântico africano, tocávamos a música apenas para nos divertirmos com as reações dela. Somente após me tornar cristão, foi que percebi dois fatos a respeito da experiência dela: primeiro, o quão sádicos nós fomos ao explorar a fraqueza dessa garota desafortunada, e segundo, o que India experimentava era uma possessão demoníaca.

Conforme estudei música e seus poderosos efeitos nas pessoas, minha atenção se voltou para os poliritmos (ou sincopes complexas) que eu costumava tocar com tanto entusiasmo. O estudo dos doutores Bird e Brekenridge (ver Adventists Affirm, Primavera 1998 pp. 17 e 18) revelou que os poliritmos típicos do Rock, Jazz e Blues e outros estilos desse tipo de música, causaram desordens nos neurônios de cobaias de laboratório. Mas o que o estudo não pôde revelar foram as implicações espirituais desse tipo de música.

A experiência de India não foi isolada. Milhares de pessoas tem sido vitimadas pela música polirítmica. A história revela que o uso de ritmos sincopados, com sua habilidade para alterar estado de consciência, descendem do Egito antigo. É no Egito antigo que os historiadores encontraram a origem da música de percussão sincopada e seus usos. Nos templos, os sacerdotes utilizavam intencionalmente síncopes complexas para induzir transes e outras perturbações[1].

Os primeiros percussionistas aprenderam a induzir respostas psicológicas, desde êxtases e alucinações até convulsões e estados de inconsciência.[2]

Essa forma de adoração pagã foi, com o passar do tempo, transportada para a África Central, onde fincou raiz em Duhomy, conhecido hoje como Republica Democrática do Congo.[3] Duhomy (ou Congo) se tornou o centro da religião vodu. Os participantes eram impulsionados pelas batidas rítmicas. Na dança do ventre, ombros, nádegas, barriga e tórax eram separadamente ou simultaneamente sacudidos ou contorcidos, ou movimentados de alguma forma.[4]

Através do comércio de escravos, essa música de adoração ao demônio, com sua batida ininterrupta, foi transportada para a ilha de Hispaniola, no Caribe. Ali, novamente, fincou raízes. Hoje, o vodu continua a ser praticado no Haiti, que ocupa o terço oeste da ilha de Hispaniola, e na Republica Dominicana, que ocupa o restante da ilha.

Com a continuidade do tráfico de escravos, esse ritmo foi levado para os Estados Unidos, e New Orleans se tornou o lar para o "rufar" dos tambores e a dança extravagante que o acompanhava. Os turistas brancos foram avidamente atraídos.

Ao mesmo tempo, enquanto os poliritmos egípcios estavam adentrando no sul da América, um outro tipo de música tinha estado a desbravar seu caminho através do Atlântico para o norte do país. Europeus brancos, desejosos de escapar da perseguição religiosa, trouxeram sua música para a Nova Inglaterra, juntamente com sua religião.

Mas a música branca era diferente. Enquanto a música pagã era baseada em poliritmos e dedicada à adoração de deuses demoníacos, os europeus trouxeram uma música composta de harmonia e melodia. Sua música melódica simples era usada para adorar o Deus verdadeiro.

A música cristã européia havia sido, por séculos, escrita e dominada pela igreja católica, que procurou alcançar a forma mais pura possível de música. A respeito da música católica a Sra White observou que "O culto da Igreja Romana é um cerimonial assaz impressionante... O ouvido também é cativado. A música é excelente. As belas e graves notas do órgão, misturando-se à melodia de muitas vozes a ressoarem pelas elevadas abóbadas e naves ornamentadas de colunas, das grandiosas catedrais, não podem deixar de impressionar a mente com profundo respeito e reverência". O Grande Conflito p. 566.

A música cristã européia avançou em direção a oeste e sul dos EUA. Enquanto isso, no sul, a música para adoração vodu estava sofrendo uma mutação. Embora muitos escravos tivessem se tornado cristãos, outros escravos mantiveram suas crenças e práticas pagãs. Muitas de suas práticas pagãs foram oprimidas pelos brancos, mas seus ritmos continuaram a ser utilizados. Quando expostos à música branca, muitos destes escravos detestaram o que parecia a eles como uma música com carência de ritmo. Entretanto, essa exposição à música branca teve seu efeito. Com o passar do tempo, escravos e ex-escravos começaram a misturar a pulsação rítmica tradicional [da música pagã[*]] com a melodia e harmonia [da música cristã européia]. Esta mistura tomou forma própria e passou a ser conhecia como "gospel". Atualmente, o gospel está bastante envolvido com, e se tornou parte, da experiência espiritual negra americana.

No campo secular, os instrumentos de sopro europeus (oboé, clarinete, etc) começaram a produzir novos sons ao caírem nas mãos dos negros americanos. Esses novos sons eram freqüentemente criados como um grito contra a opressão [da escravidão] branca.

O poeta e escritor negro, LeRoi Jones, observou certa vez que os intérpretes [negros] faziam com que os instrumentos soassem deliberadamente "amusicais", o mais não-branco possível, numa reação à delicadeza e legitimidade que estavam se misturando a música instrumental negra.[5]

Desta nova transformação surgiram novos estilos musicais como o "rhythm", "blues" e "jazz". A música branca também passava por transformações no norte, onde as "big bands" introduziram novos ritmos aos salões de dança brancos. "Boogie woogie" e outras músicas similares se tornaram a ordem do dia. As mulheres eram arremessadas, rodopiadas e giradas, obedecendo a ditadura do tambor.

De volta ao sul, a nova, amalgamada, música negra geralmente estava restrita a distritos da "luz vermelha" [N.T. – Distritos de reputação duvidosa]; entretanto a Grande Depressão obrigou-a a subir o Rio Mississipi. Os artistas negros, impossibilitados de continuar a viver no sul, se mudaram para os distritos da "luz vermelha" no norte do país, especialmente em Saint Louis e Chicago.[6]

Na arena religiosa, o gospel começou a chamar atenção de alguns brancos. Pessoas como Elvis Presley, que costumava freqüentar apresentações de corais gospel de negros, ficou impressionado com o balanço do novo ritmo.[7]

Ao mesmo tempo, novamente no norte, um novo estilo musical estava surgindo. Em meados dos anos 50 o R&B (rhythm & blues) tornou-se bastante popular, não apenas entre os negros das cidades, mas também com os adolescentes e jovens brancos. Imediatamente, os músicos brancos adaptaram os métodos e o vocabulário do R&B aos seus próprios interesses. Em Chester, Pennsylvania, um grupo musical branco, chamado Bill Haley and the Comets (no qual toquei baixo elétrico por algum tempo), adotou o novo ritmo o que lhe rendeu o título de "O Pai do Rock and Roll". Impulsionado pelo filme "Blackboard Jungle", a versão de Bill Haley para "Rock around the clock" tornou-se instantaneamente um sucesso entre a juventude branca. Promovido por Allan Freed, disc jockey de Cleveland, Ohio, o novíssimo rock and roll tornou-se a norma entre a juventude americana. Ele se espalhou rapidamente para muitos paises, e, hoje, sua batida incessante é sentida mundialmente. Um tipo de música capaz de transcender a todas as culturas.

O Surgimento da "Música Cristã Contemporânea".

Durante a década de 50 e começo dos anos 60, muito dos músicos de rock que haviam crescido nos bancos da igreja incorporaram o novo estilo às suas performances. Sua música pseudo-religiosa, com suas batidas de fundo, foram introduzidas em canções seculares. A música "You saw me crying in the Chapel" cantada por Elvis Presley, "My Prayer" pelos Platters, "People Get Ready, There’s a Train That’s Coming" do grupo Impressions (cujo cantor principal era Curtis Mayfield, um cantor gospel de Chicago), e "He" dos Righteous Brothers, cada uma delas alcançou o primeiro lugar nas paradas de sucesso. Mais tarde, "God Bless You, Please, Mrs. Robinson, Jesus Loves You More Than You Can Know", de Simon and Garfunkle, e "To Everything Turn, Turn, Turn"(baseado em Eclesiastes, capítulo 3) do grupo Birds, todas bastante populares, tornaram-se repertório de muitas boates e danceterias. Lembro-me de ter cantado ou tocado estas canções à noite, em bares, boates e danceterias cheias de fumaça de cigarro, bebidas alcoólicas e dançarinas de strip tease.

No começo dos anos de 70, um fenômeno bastante sinistro começou a acontecer. Uma enxurrada dessa musica pretensamente "religiosa" começou a aparecer dentro das igrejas cristãs. Embora seja verdade que os pentecostais já usavam música sincopada em seus cultos de adoração há algum tempo, produzindo reações não muito diferentes das obtidas pelos Egípcios antigos, o estilo de adoração pentecostal não era considerado aceitável pelas igrejas tradicionais. Entretanto, assim como o movimento carismático penetrou nas igrejas tradicionais, assim também ocorreu com a música pentecostal.

Por algum tempo a Igreja Adventista do Sétimo Dia foi bem sucedida em manter essa "batida" fora de seus limites. A Conferência Geral agiu prontamente, publicando orientações para a seleção de música apropriada (ver Adventists Affirm, Primavera de 1998, pp. 59-64) [N.T.- Clique aqui para ver o documento emitido pela Conferência Geral]. Mas a besta bateu ainda mais forte na porta da igreja – e conseguiu uma maneira de entrar na igreja através do uso play-backs e através do apelo "cultural" dessa música.

Satanás é astuto. Ele sabia que a bateria usada no rock and roll não seria aceita no púlpito da igreja, ele a colocou lá através de um cassete/cd de play-back. Ele acostumou as pessoas ao seu som e finalmente atingiu seu objetivo de colocá-la fisicamente dentro do templo.

E, embora o termo "cultura" significasse refinar e enobrecer, Satanás fez com que ele passasse a significar tudo o que é rude e grosseiro, coisas que, sob as absurdas restrições do politicamente correto, ninguém pode julgar! Práticas estranhas, que a Bíblia condena como tradições vãs e idólatras, o que inclui a música usada para preparar pessoas para orgias nos templos [pagãos do Egito antigo], produzindo êxtase e alucinações oferecidas a deuses demoníacos, são agora chamadas de música de Deus, que ninguém é capaz de reprovar!

A música de Satanás "deu a volta por cima" – e foi assim que a Música Cristã Contemporânea chegou onde está hoje.

É uma cena nada agradável, não é?

Medite sobre isso - vendo sob a ótica do Grande Conflito entre Cristo e Satanás, será possível que seja apropriado adorar a Cristo usando a música de Satanás?

Tradução: Fábio Araújo Martins - Janeiro de 2005



Notas:

[*] Todos os termos entre [colchetes] são de autoria dos editores do Música Sacra e Adoração e não constam do original em inglês.

[1] Pennethorne Hughes, Witchcraft (Londres: Longman Green, 1965), p. 23; citado em Ismael Reed, Mumbo Jumbo (Nova Iorque: Doubleday, 1972), p. 191.

[2] Michael Segell, "Rhythmitism", Americam Health, Dezembro de 1988, pp. 19, 37.

[3] Marshall Stearn, The Story of Jazz (Nova Iorque: Oxford University, 1956), p. 20.

[4] Louis and Carol Torres, Notes on Music (St. Marie’s, ID: LMN Publishers, 1993), p. 36

[5] The Sun Herald (Australia), 19 de Março de 1989, p. 148.

[6] Andre Francis, Jazz (Nova Iorque: Grove Press, 1960), p.56.

[7] "How Blacks Invented Rock and Roll", Ebony, Janeiro de 1997, p. 56.

[8] William J. Shaffer, Rock Music (Minneapolis: Augsburg Publishing, 1972), p. 15.

[9] Veja Segell, "Rhythmitism", pp. 58-60.


Fonte: Adventists Affirm. Vol 13, Nº 1. Spring, 1999, pp. 17-20.

domingo, 16 de maio de 2010

Os Animais são Naturalmente Musicais?









Que tipo de música os macacos mais gostam? Se esta questão algum dia já perturbou você, junte-se ao ex-DJ de casas noturnas, obsessivo colecionador de gravações musicais e cientista da cognição Josh McDermott. Ele gastou 15 meses tentando responder a esta pergunta, através de testes com o Sagüi Cabeça de Algodão e outras espécies de sagüis comuns. Tentou perceber se os macaquinhos preferiam uma canção de ninar Russa bem tranqüila ou trechos de uma música Techno alemã chamada: Nobody Gets Out Alive (Ninguém Sai Dessa Vivo). Ele também ofereceu aos animais uma escolha entre canções de ninar instrumentais, uma canção de ninar cantada, um Concerto de Mozart, ou o silêncio. Ele ainda os sujeitou a uma massa de sons dissonantes, para testar a reação dos animais.

Você pode imaginar que macacos não são assim tão diferentes dos humanos, mas se pensa que eles possuem gostos musicais parecidos com os nossos, ficará surpreso com o que McDermott, agora situado na Universidade de Minnesota, Minneapolis, e o seu colega da Universidade de Harvard, Marc Hauser, descobriram. Certamente, você pode até compartilhar com os macacos a preferência pela canção de ninar flauteada, ao invés da "Nobody Gets Out Alive", que é uma metralhadora de percussão e efeitos sonoros sintéticos esquisitos. Mas a escolha deles, dentro de um espectro mais amplo de músicas suaves, é bem diferente. Diferentemente dos humanos e sua variedade de escolhas, os macacos sempre preferem o silêncio a qualquer tipo de música. O mais inexplicável de tudo é a descoberta de que os macacos não sabem as diferenças entre tons melódicos e vários sons dissonantes que, para a maior parte das pessoas, seriam considerados uma forma de tortura.

Essas experiências, dizem McDermott e Hauser, mostram que as motivações fundamentais encontradas pelos humanos na música, não existem nos macacos. Comentando as descobertas, Isabelle Peretz, uma neuropsicóloga da Universidade de Montreal, Canadá, sugere que "apenas os seres humanos têm uma inclinação natural e inata em atribuir valor à música". Será que isto é verdade?

A perspectiva de Peretz está enraizada em uma longa tradição que atribui unicidade com respeito a tudo o que se refere à musicalidade humana – não apenas ao nosso gosto sonoro, mas também como a música soa para nós, como nós a percebemos ou mesmo como a construímos.

Propositores deste ponto de vista argumentam que a instrumentação musical humana é inigualável. Dizem que a extravagante variedade de meios pelos quais os seres humanos se expressam musicalmente não encontra comparações com qualquer outra espécie – usamos música para vender coisas, adorar a Deus, motivação pessoal ou por puro prazer, enquanto que mesmo um virtuoso pássaro canoro canta apenas por sexo ou para marcar seu território. Sob este ponto de vista, a música de outros animais, mesmo que coincidentemente parecida com a humana, é de fato nada mais do que um som servindo a uma função biológica específica. As descobertas de McDermott, aparentemente, encaixam-se nesta perspectiva.

Entretanto, alguns especialistas começam a questionar os ortodoxos. Sem dúvida, uma quantidade crescente de evidências sugere que a musicalidade humana não é assim tão especial e que, mesmo as espécies que desenvolveram uma musicalidade sem relação com os primatas, possuem vidas musicais ricas, permitindo-nos que aprendamos mais sobre a natureza e a origem da música se apenas nos sintonizarmos com elas.

O que é uma Canção?

Um dos primeiros pilares do conhecimento musical a cair foi a idéia de que apenas os humanos apreciassem a melodia. A maioria de nossas músicas é criada a partir de um grupo finito de notas que abrange uma oitava. Seja qual for a escala, notas são combinadas e recombinadas em padrões que chamamos de melodia. Quando ouvimos musica, o padrão de notas numa melodia é mais importante do que seu tom absoluto – sempre reconheceremos uma mesma melodia familiar, seja ela cantada por um adulto ou por uma criança. Pesquisadores musicais têm suspeitado que esta habilidade crucial fosse única em humanos, e alguns experimentos supostamente provaram isso. Pesquisadores descobriram que se uma canção fosse tocada para um estorninho, um pássaro mandarim ou pombos e depois fossem transcritos em uma oitava acima ou abaixo, as aves não ouviriam a mesma canção. Ao invés disso, aparentemente ouviam dois grupos diferentes de tons absolutos. Da mesma maneira, macacos capuchinhos que aprenderam a pegar sua comida após o som de uma canção, não reconheceram a sua "música de comida" se esta era transposta em uma oitava.

Em 2001, entretanto, um estudo de Anthony Wright e colegas da Universidade de Medicina do Texas, em Houston, colocaram essas descobertas em cheque. Descobriram que Macacos Rhesus eram capazes de reconhecer melodias transpostas em uma oitava inteira, sem grandes dificuldades – mas apenas quando eram submetidos à musicas infantis, como "Parabéns a Você", caracterizadas por fortes transições tonais. Quando Wright submeteu os macacos à músicas com melodias fracas, descobriu que os macacos não eram capazes nem de se lembrar das canções, quanto mais executar transposições. Experimentos anteriores, aponta Wright, usaram músicas atonais ou mesmo notas sem qualquer melodia, o que poderia explicar os resultados contraditórios. Aparentemente, pelo menos neste sentido, nossa habilidade musical não é tão diferente dos primatas, já que também temos certa dificuldade em reconhecer musica atonal, se ela se move para cima ou para baixo, na escala.

Também não estamos sozinhos na apreciação da essência de estilos musicais diferentes. Ava Chase, do Instituto Rowland, Na Universidade de Harvard, em Cambridge, Massachusetts, tem demonstrado que as carpas podem saber a diferença entre música barroca e a música de John Lee Hooker, pressionando um botão com seus focinhos para diferenciar uma da outra. As carpas nem mesmo usam sons para sua comunicação, mas são reconhecidas por sua sensibilidade auditiva. Pardais da Ilha de Java podem não apenas distinguir entre Bach e Schoenberg, mas, como descobriu Shigeru Watanabe, da Universidade de Keio, no Japão, podem aplicar o que aprenderam sobre as diferenças entre música erudita e as músicas mais modernas, para diferenciar as belas melodias de Antonio Vivaldi e os sons mais tensos da musica atonal de Elliott Carter. Ao contrário dos macacos de McDermott, os pardais de Watanabe aparentemente demonstraram se envolver com a música, mostrando claras preferências pelos trechos mais belos e harmoniosos e escolhendo ouvi-los em vez de ficarem sentados em silêncio.

Estudos de espécies que fazem música, ou algo enganosamente semelhante a ela, também apostam na idéia da existência de criatividade musical fora de nossa própria espécie. Pássaros canoros, por exemplo, arranjam e rearranjam grupos específicos de notas para montar frases ou longos temas, semelhantes às nossas melodias. Alguns também variam ritmos, assim como a altura, das mesmas maneiras que fazemos.

Os sons de Baleias Jubarte aplicam os mesmos princípios que usamos. Combinam frases com 15 segundos de duração e constroem temas com cerca de 2 minutos. Finalizações fraseológicas podem corresponder, ritmicamente, com as rimas em nossas letras. Uma variedade de temas que podem fazer uma música de talvez 12 minutos de duração, que pode ser repetida várias vezes. O maior ciclo musical gravado de uma Baleia durou 21 horas.

A "musica" da foca é a mais estranha para os ouvidos humanos, se é que o seu som pode ser chamado de canção, segundo Tecumseh Fitch, um especialista em bioacústica, da Universidade de Saint Andrews, no Reino Unido. A vocalização complexa das "verdadeiras" focas e morsas inclui vibrações, cliques, raspas, grunhidos e um "marcante som parecido com um sino", diz o especialista.

Aves, baleias, focas e humanos compartilham não apenas canções complexas, mas a habilidade de aprendê-las – não são apenas pré-programados para produzir sons musicais de acordo com uma marca de tempo genética, como são muitos animais. Isso lhes confere uma criatividade adicional. Da mesma forma que grupos humanos possuem diferentes tipos de tradição musical, diferentes grupos de baleias possuem dialetos próprios, e é possível para uma influenciar o gosto das outras. Tem sido documentado mais de uma vez que um grupo social de baleias irá abandonar suas canções características em favor de sons novos de um grupo social estranho.

Todo esse debate nos deixa com uma difícil interrogação sobre a finalidade da música. Aqueles que argumentam em favor da unicidade da música humana dizem que a criamos por intermináveis e incontáveis motivos, enquanto que os animais cantam apenas em alguns contextos determinados e específicos. O canto de um pássaro é exclusivo aos machos e seu único propósito é seduzir sua parceira e proteger o território. Semelhantemente, baleias somente cantam em zonas de reprodução em uma época específica do ano. Mais ainda, animais nunca cantam para eles mesmos, enquanto que humanos podem sentar sozinhos e murmurar, cantar, batucar um bumbo ou dedilhar uma guitarra por horas a fio.

O argumento contrário sustenta que não há diferença absoluta entre seres humanos e outros animais, isto seria apenas uma questão de perspectiva. De acordo com Fitch, limitações da música humana são subestimadas e aquelas existentes na música dos animais são freqüentemente superestimadas. Sexo, vínculo social e competição podem não ser a explicação de toda a música humana, mas certamente motivam muito dela. Mais ainda, uma quantidade substancial da música humana tem uma aplicação específica – pense na marcha nupcial, músicas fúnebres, hinos dos times de futebol e músicas parecidas. Com relação ao mundo animal, baleias foram ouvidas fora dos seus locais de reprodução, e algumas vezes aves são ouvidas vocalizando suavemente para si mesmas, em algo que se parece incrivelmente com os ensaios musicais humanos. Da mesma forma, não são apenas os pássaros canoros machos que cantam – em algumas espécies, machos e fêmeas até fazem duetos. E assim como não há dúvida de que o canto destes pássaros é usado para a comunicação com parceiros e rivais, sabe-se que ele possui outros papéis. O canto pode ser usado como senha ou como vínculo social para um grupo de animais. "Mesmo no escopo de uma única espécie, o canto funciona de diversas maneiras", diz Fitch.

O Princípio do Prazer.

Então, o que dizer sobre a afirmação de que somente os seres humanos se deleitam da música? Sem contar o prazer perverso que sentimos ao ouvir melodias melancólicas, provavelmente a razão mais importante para que nos interessemos pela música é porque ela nos proporciona uma sensação de bem estar. Monitoramentos cerebrais mostram que a sensação de euforia proporcionada pela audição musical é acompanhada por atividades nas mesmas áreas cerebrais que respondem às gratificações geradas pela comida, pelo sexo e pelas drogas psicotrópicas. Robin Dumbar, da Universidade de Oxford, tem estudado as maneiras como o canto em grupo e o toque de tambores fazem as pessoas se sentirem. "A atividade musical parece produzir cargas de endorfina, as quais presumimos que produzem em você a excitação em participar dessas atividades que, fora de contexto, pareceriam estranhas", ele diz.

Claro que não podemos perguntar a um animal como ele está se sentindo, mas alguns pesquisadores argumentam que pássaros somente cantam quando seus níveis hormonais estão altos, implicando na noção de que eles não seriam nada mais do que autômatos alados capazes de fazer sons. Fitch, por sua vez, não está convencido. "Pássaros cantam, provavelmente, porque isso os faz se sentirem bem – cumprir os impulsos biológicos geralmente faz com que os seres vivos se sintam bem", ele diz. Ele traça um paralelo entre o sexo e os motivos pelos quais o fazemos. "A razão crucial é a produção de descendentes, e isto é, definitivamente, parte da história", ele diz. "Porém, também o praticamos porque faz com que nos sintamos bem. Esta é uma motivação válida! Fazemos sexo com maior freqüência quando nossos níveis hormonais estão altos, e menos quando estão baixos – isso também é um motivo".

A perspectiva de que os pássaros têm prazer em cantar é sustentada por um estudo publicado em 2006 por Erich Jarvis e colegas do Centro Médico Universitário em Durham, Carolina do Norte. Descobriram um aumento nos níveis de dopamina em pássaros canoros machos, no momento em que cantavam. Os níveis aumentavam especialmente quando cantavam para uma fêmea. Dopamina, reconhecida como o neurotransmissor do bem-estar, é importante para o aprendizado. Ainda não está claro o papel que desempenha nos pássaros canoros, diz Jarvis, mas suspeitamos de que sua função primária seja a de induzir um reforço na aprendizagem e sua função secundária pode ser a de criar uma sensação de euforia.

Improvisação Musical dos Chipanzés Pigmeus.

Bill Fields, do "Great Ape Trust", na cidade de Des Moines, no Estado de Iowa, concorda que não são apenas os humanos que se sentem bem com a música. Acompanhado de Sue Savage-Rumbaugh e outros, está envolvido em um projeto ainda em andamento que explora os gostos musicais e habilidades de linguagem treinada dos Chipanzés Pigmeus, incluindo o famoso Kanzi e a fêmea Panbanisha. Uma seção musical no Great Ape Trust geralmente envolve performances ao vivo de músicos locais, mas os animais já improvisaram com celebridades como Peter Gabriel e Paul MacCartney. Os chipanzés podem escolher entre instrumentos como xilofone, tamborim, gaita e maraca, mas geralmente se concentram em apenas um deles durante a seção – Panbanisha gosta dos teclados, enquanto que Kanzi prefere a bateria (apesar de gostar de tocar o piano, de uma maneira mais percussiva). O resultado é um trabalho cooperativo, envolvendo humanos e chipanzés em um vai-e-vem bastante emocionante. A cada vez que os primatas se dedicam às seções musicais, diz Fields, "eles mudam de fisionomia por dias a fio". A música parece relaxá-los.

Provavelmente a similitude entre esses macacos aculturados e nós humanos não seja tão surpreendente. Afinal, chipanzés pigmeus ou os chipanzés comuns possuem características biológicas semelhantes às nossas. Chipanzés podem não cantar como seus primos primatas, os macacos Gibões, tão famosamente fazem, mas Flitch acredita que as origens da instrumentação musical podem ser encontradas em seu comportamento na selva, onde eles regularmente batucam em objetos naturalmente ressonantes, como nas partes mais resistentes das árvores. Alguns pesquisadores até imaginam que, como as baleias, grupos de chipanzés possuem práticas culturais distintas em relação aos batuques e vocalizações.

Apesar de tudo isso, a visão tradicional relacionada à limitação da musicalidade dos animais ainda prevalece, e muitos especialistas conservam-se convencidos de que a musicalidade humana é única. Todavia, existem alguns sinais de que as coisas estão mudando. McDermott, Hauser e Fitch são unânimes em afirmar que os componentes musicais provavelmente se desenvolveram de maneiras diferentes em épocas diferentes – e é simplesmente no "onde" e "quando" que estes pesquisadores discordam. Eles também concordam que ainda há muito a ser descoberto sobre as similaridades e diferenças entre os humanos e outros animais. Peixes podem ser capazes de diferenciar a música barroca do blues, por exemplo, mas eles distinguem entre esses estilos musicais de maneiras semelhantes as nossas e, se assim for, como isso acontece?

Pelo menos para os macacos de McDermott, um mistério já foi resolvido. Dada a sua indiferença pela música, por que eles preferem as canções de ninar ao som do Techno? Suspeitando que essa preferência tenha maior relação com uma resposta genérica ao andamento da música do que um discernimento de estilo, McDermott e Hauser ofereceram a eles uma escolha entre uma trilha sonora de 60 batidas por minuto e uma de 400. Com toda a certeza, os macacos optaram pela faixa de andamento mais lento. No mundo natural, os pesquisadores apontam, uma seqüência rápida de sons freqüentemente acontece em situações negativas, como lutas e tempestades. Deste modo, mais uma vez, a faixa mais rápida poderia simplesmente sugerir o tum-tum-tum de um coração pulsando ferozmente.

Christine Kenneally

------------------

Fonte: Revista New Scientist, vol. 197, nr. 2644 (23 de fevereiro de 2008), pp. 29-32
Artigo original disponível on-line em http://www.newscientist.com/channel/life/mg19726441.300-music-special-are-animals-naturally-musical.html


-----------------

Tradução: Adrian Theodor (março/2008). Revisão: Levi de Paula Tavares.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Indicações =]

(Gilberto Freyre)

> ANDRADE, Mário de. 1972. Ensaio sobre a música brasileira. São Paulo:
Livraria Martins Fontes.

> FREYRE, Gilberto. 1965. “Monarquia amiga da música”. In Bandeira, M.,
Andrade, Carlos Drummond de. Rio de Janeiro em prosa e verso. Rio de
Janeiro: Livraria José Olympio, 444-447.

> MOREYRA, Álvaro. 1965. “Pregões musicavam a rua”. In Bandeira, M.,
Andrade, Carlos Drummond de. Rio de Janeiro em prosa e verso. Rio de
Janeiro: Livraria José Olympio, 201-203.

> SCHAFER, R. Murray. 2001. A afinação do mundo. São Paulo: UNESP.

> __________________. 1991. O ouvido pensante. São Paulo: UNESP.

> MORAES, J. Jota de. O que é música. São Paulo: Brasiliense, 1986.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

III Congresso Internacional de Música, Neurociência, Arte e Terapia


20 a 22 de agosto de 2010 – São Paulo – Brasil
Local: Complexo Educacional FMU – Núcleo Saúde
Avenida Santo Amaro, 1239 - Vila Nova Conceição

O III Congresso Internacional de música, neurociência, arte e terapia (CIMNAT) promovido pelo Centro de Musicoterapia Benenzon Brasil será realizado de 20 a 22 de agosto de 2010 na cidade de São Paulo.

A proposta do evento é reunir pesquisadores e profissionais da neurociência, saúde, educação, música e outras artes para apresentar e discutir as interfaces entre estas áreas e ampliar os conhecimentos sobre as possibilidades terapêuticas destas interseções para promoção e reabilitação da saúde do ser humano.

O evento ocorre junto ao III Encontro dos Centros de Musicoterapia Benenzon que objetiva reunir e discutir projetos, pesquisas e trabalhos desenvolvidos pela rede internacional de Centros Benenzon cujos representantes são profissionais da Italia, Espanha, Portugal, Chipre, Brasil e Argentina, incluindo o próprio professor Rolando Benenzon, que, entre outras participações, será Presidente de Honra do evento.

Par mais informações acesse:

http://www.cimnat.com.br/index.php

;)