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terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Em Busca da Roda quase Perdida



As cantigas de roda fortalecem elos afetivos e culturais (E são uma gostosa diversão em casa).

"Ciranda, cirandinha, vamos todos..." É pena, mas, cada dia menos, as crianças conjugam, cantam e dançam o verbo cirandar – desta e de qualquer outra cantiga de roda. A lista de motivos que distanciaram a cantiga e a roda das brincadeiras infantis é grande. Os edifícios e suas minúsculas áreas de lazer engoliram, literalmente os quintais amplos nas grandes cidades, A insegurança afugentou das ruas as crianças, Ao mesmo tempo, com velocidade espantosa, a mídia transforma em modismo musical e comportamental a dança da garrafa e outras, que, no máximo, exigem da meninada capacidade de imitação. Longe do círculo, das lendas e das cantigas de roda, os baixinhos deixam de ganhar uma grande contribuição para seu desenvolvimento social, cultural e emocional.

Ao longo da História, esse passatempo transmitiu histórias, lendas, cultura. E consolidou o vínculo afetivo de muitas gerações, que se deram as mãos, cantaram e dançaram juntas, falando a mesma linguagem, apesar da mudança dos tempos. A cantiga e a roda sempre representaram uma das sólidas pontes entre as avós e seus netos, por exemplo. Senhoras e crianças recitaram o mesmo verso, cada uma em seu tempo e, mais tarde, na mesma roda – cúmplices uma da outra. Brincando com símbolos, assumindo papéis diferentes na representação, ou simplesmente recitando um verso no centro da roda, os baixinhos "vestem" diferentes personalidades e experimentam distintas emoções – vivências que os ajudam a construir a própria identidade. No vai-e-vem da roda, a criançada vai descobrindo a harmonia dos movimentos do próprio corpo e a musicalidade de sua voz.

Arcas encantadas. De mãos dadas no círculo, ou dentro dele, as crianças têm a oportunidade de exercitar sua desenvoltura, de compartilhar alegria, afeto e aprovação dos amiguinhos. Também têm a chance de se projetar no grupo. Brincando, elas exercitam sua capacidade de socialização, habilidade necessária em qualquer ambiente que exija convivência e traquejo social. Ao longo da vida, a "roda" terá cenários bem mais amplos: a escola, o trabalho, a cidade, o país e a família que o adulto vier a formar. E embora não seja o remédio para todos os males, as cantigas de roda podem até favorecer, nessa idade, a convivência dos clubes do bolinha e da luluzinha, sem maiores desavenças.

De verso em verso, as músicas e as danças também mantêm vivas a história e a cultura de um determinado país ou região. É o que se vê, por exemplo, em o Peixe Vivo, canção que relata a lenda amazônica do boto, que seduzia as jovens solteiras dos povoados ribeirinhos.

Engana-se quem imaginar que as qualidades dessas ricas musiquinhas terminam por aí. Elas são fortes aliadas também na hora de ensinar a meninada a ler e a escrever. Os especialistas afirmam que a familiaridade com textos conhecidos e apreciados pelos baixinhos facilita a alfabetização. Perceber que a combinação de determinadas letrinhas resulta em cada uma das palavras do refrão de uma cantiga conhecida é muito mais gostoso e interessante do que aprender a ler e escrever palavras isoladas. Isso, dizem esses profissionais, aumenta a capacidade de compreensão da criança que, assim, tem mais possibilidades de interpretar e conhecer o mundo em que vive. As cantigas podem ser comparadas a baús que guardam diferentes tesouros. Por isso tem crescido o número de educadores e músicos que procuram recuperar a força e o brilho dessas arcas encantadas.

Renascimento. Livros que contam histórias das rodas e do folclore estão sendo reeditados e músicos como Paulo Tatit e Sandra Peres coordenam um projeto que reúne vários artistas com o objetivo de dar um ar novo às antigas cantigas. A dupla também está lançando canções inéditas na tentativa de fazer com que os pais voltem a intermediar o contato da criança com a música – algo que as cantigas de roda sempre fizeram. E que rende uma gostosa diversão em casa.

Aproveite reuniões de família para relembrar velhas cantigas. Da vovó ao netinho, todos vão curtir muito.

Ensine novas músicas ao seu filho. Nas brincadeiras com os amiguinhos, ele terá prazer em ampliar o repertório da turminha – e, de quebra, terá mais facilidade para se integrar a qualquer grupo.

Estimule a criança a recontar as cenas das cantigas ou representá-las com os amiguinhos. É uma ótima maneira de ampliar sua capacidade de expressão.

As livrarias e casas de disco têm boas obras originais e composições mais modernas. Boas pedidas são os livros da coleção Lua Nova, da Editora Ática, e Arco-Íris, da Mazza Editores. Entre as gravações, vale a pena procurar pelos discos Brincadeiras de Roda, Estórias e Canções de Ninar, do selo Eldorado, e a coleção Palavra Cantada, do selo Salamandra.

Nesta rua tem um bosque – A cantiga é uma versão urbana da lenda indígena em que o chefe de uma tribo é enfeitiçado e enlouquece de paixão pelo canto do uirapuru – na verdade, a ave é uma índia que havia sido rejeitada por ele em seu amor e transformada em pássaro pelos deuses.

Peixe vivo – A cantiga se relaciona à lenda amazônica do boto que, ao cair da tarde, sai do rio e toma forma humana para beber, dançar, conversar – e seduzir – as jovens solteiras dos povoados ribeirinhos. Ao final da noite, ele retorna ao rio e à sua forma original. Assim, os filhos de mães solteiras dessas regiões são chamados de "filhos do boto".

Pai Francisco – É o personagem central do bumba-meu-boi. Ele corta a língua do boi predileto do coronel para satisfazer o desejo da mulher grávida. Em seguida, é preso e só não é morto pelo milagre do boi, que volta a viver para que ele possa ganhar a liberdade.

Revista Crescer, jan/98, pág. 80.

Fonte: http://www.indomus.com.br/musicaliza/artigos_e_textos.htm

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